LEVY, Pierre. Cibercultura. São Paulo: Ed. 34, 1999. 260p.
Pierre Levy é filósofo e nasceu em 1956, na cidade de Túnis, na Tunísia. Realizou seus estudos na França, tornando-se mestre em História da ciência e Doutor em Sociologia e em ciências da informação e da comunicação. Lecionou em várias universidades em Paris, Montreal e Quebec. Presta serviços a vários governos e organismos internacionais e grandes empresas sobre as implicações culturais das novas tecnologias. Desde 2002, trabalha como titular da cadeira de pesquisa em inteligência coletiva na Universidade de Otawa (Canadá). È autor de: As Tecnologias da Inteligência (1992), As árvores do conhecimento (1995), O que é o virtual (1996), A ideografia dinâmica: para uma imaginação artificial (1997), A inteligência coletiva: por uma antropologia do ciberespaço, entre outros.
Nesta obra o autor se propõe a estudar a cibercultura definindo-a como “conjunto de técnicas (materiais e intelectuais), de práticas, de atitudes, de modos de pensamento e de valores que se desenvolvem com o crescimento do ciberespaço” (p. 17). Este último, por sua vez, é descrito como o “novo meio de comunicação que surge da interconexão mundial dos computadores e torna específico não apenas a infra-estrutura material da comunicação digital, mas também o universo de informações que ele abriga, assim como os humanos que navegam e alimentam esse universo” (p. 17).
O autor aborda as implicações culturais do desenvolvimento das tecnologias digitais de informação e de comunicação. Por meio desta obra, o autor visa mostrar que “a chave da cultura do futuro é o conceito de universal sem totalidade (p. 247)”. Na proposição do autor o universal significa a presença virtual da humanidade para si mesma (P. 247), e tal conquista tornaria democrática a informação e a comunicação em nível mundial, permitindo a interatividade entre os sujeitos em escala planetária.
A idéia principal da obra é mostrar a possibilidade da “interconexão universal de todos os bípedes falantes e de fazê-los participar da inteligência coletiva da espécie no seio de um mundo ubiquitário” (p. 247), sem que com isso sejam perdidas as idéias de diversidade, de dialética e de complexo. È clara a oposição do autor ao fechamento semântico e de unidade de sentido, ou totalidade. Para ele o ciberespaço é universal por se basear na escrita, suporte fundamental de registro e difusão do saber, que permitiu a generalização e universalização da ciência e da religião. Contudo, o ciberespaço se distingue da cultura escrita, que a pesar de ser universal é totalizante, distingue-se também das culturas orais que são totalizantes, sem serem universais.
A obra está dividida em três partes, sendo a primeira destinada à apresentação dos conceitos que explicam e fundamentam a cibercultura como: técnica e tecnologia, inteligência coletiva, digitalização, virtualização, simulação, interatividade e hipertexto. Nesta seção o autor discute também os impactos sócio-culturais das novas tecnologias, apontando-as como fruto da sociedade e da cultura e como condicionante de novas formas de pensar, de perceber e de se relacionar com o mundo.
A segunda parte do livro é dedicada às proposições que sustentam a cibercultura e tem como objetivo apresentar uma análise à nova pragmática das comunicações instaurada pelo ciberespaço explicitando teoricamente o conceito de universal totalizante e suas implicações sócio-culturais. São avaliados portanto, nesta parte a universalidade no plano técnico, a cibercultura como movimento social, a música e a arte na cibercultura, novas relações com o saber e as mutações na educação, e questões relativas ao espaço geográfico das cidades e possibilidades de democratização e participação dos cidadãos.
No terceiro bloco Pierre Levy tece críticas e apresenta problemas relativos diversidades de pontos de vista e de interesse dos diferentes usuários da cibercultura que geram conflitos, como: questão da soberania dos Estados, a visão de rede como um supermercado planetário, a exclusão de parcelas da população mundial, os conflitos relativos a dominação política, econômico e das mídias, a questão da superação de tecnologias por outras mais avançadas e a abertura a inovações.
O autor apresenta uma abordagem baseada no raciocínio indutivo e de perspectiva materialista dialética. Faz uma crítica a Escola de Frankfurt e a Heidegger (p. 23), no que se refere à abordagem generalizante dos efeitos sócio-culturais das técnicas. Assim, nesta obra a visão do autor pode ser classificada, conforme os escritos de Eco (1964) de visão integrada do uso dos meios de comunicação, ou abordagem teórica na qual são apresentadas, ou se enfatiza apenas os impactos positivos das tecnologias na cultura.
O autor é otimista quanto às mutações tecnológicas, embora saiba não ser possível mensurar ou acompanhar estas evoluções por causa da velocidade em que elas se dão. Crê ser possível através da cibercultura e da sua dimensão universal sem totalidade realizar o ideal moderno de liberdade, igualdade e fraternidade e o objetivo marxista de apropriação dos meios de produção pelos próprios produtores. Apresenta o ciberespaço como bem público e possibilidade de interconexão planetária mas, discute muito timidamente questões relativas às populações mais carentes e analfabetismo ao tratar de exclusão, asseverando que cada sistema de comunicação fabrica seus próprios excluídos (p. 237). Assim com respeito à possível dominação de potências cujo poder tecnológico são muito grandes, o autor as coloca em pé de igualdade com os indivíduos que possuam competências técnicas para investir no ciberespaço em qualquer espaço geográfico ou posição social, no que tange a possibilidade de participação e de contribuição à construção da inteligência coletiva.
Esta obra é recomendada para educadores, comunicólogos, sociólogos, antropólogos, profissionais ligados à área de informática e estudantes destas respectivas áreas, sejam da graduação seja dos cursos de pós-graduação.
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